domingo, abril 26, 2009

Aventuras Fantásticas FTW!


Sensacional! Parece que uma editora pequena resolveu resgatar do limbo a coleção de livros-jogos Aventuras Fantásticas. A editora é a Jambô, especializada em RPG.


E eu pensava que algo assim nunca aconteceria. Soterrado pelo meu próprio pessimismo, podia apostar que as novas gerações de nerdizinhos eram bem mais suscetíveis aos atrativos coloridos e barulhentos de uma raid no Mundo de Warcraft do que a explorar a Montanha de Fogo, munidos de lápis e dados. Aliás, só o tempo dirá se esse relançamento converterá novos fiéis ou apenas trará orgasmos nerds aos fãs nostálgicos.


Mas se você – infiel imundo – não sabe o que eram os livros-jogos Aventuras Fantásticas, eu vou tentar explicar do modo mais não-didático possível, ou seja, a partir das minhas parciais recordações de pré-adolescente virgem.


Em tempos ancestrais, quando o RPG era tão desconhecido que não chegava nem a ser coisa do demônio e A Espada Selvagem de Conan era o máximo de publicação especializada em RPG que o mercado “oferecia”, as Aventuras Fantásticas reinavam supremas. O material de RPG em português era quase inexistente e eu passava maus bocados me digladiando com os suplementos de GURPS em inglês. Sem contar as traduções do Senhor dos Anéis e Dragonlance em português de Purtugal. Ah, quanta nostalgia.


Mas, naquela época, se você queria ter uma experiência rpgística e não tinha um grupo a sua disposição, não iria perder seu precioso tempo com WOW, esse vício sebento. Você iria comprar uma Aventura Fantástica em qualquer livraria.


O meu ritual era quase o mesmo de uma sessão de RPG. Eu me sentava à mesa, preparando cuidadosamente o material de jogo: um lápis, borracha, a Folha de Aventuras do meu personagem e dois pares de dados (um para mim e outro para os inimigos, claro - acha que eu ia dar esse mole e usar os meus dados pros monstros?). Pegava um pacote de biscoitos recheados e uma garrafa de Coca Cola (o então equivalente a cerveja e amendoim) e mandava ver. Não descansava até chegar ao famigerado parágrafo 400.


E roubava muito. Óbvio, eu queria me convencer de que não estava roubando, tinha escrúpulos. Mas porra – não tinha ninguém olhando! Era eu quem decidia quando um lance de dados espelhava, e isso era muito poder para um pré-adolescentezinho misantropo metido a besta.


Sem contar que naquela época eu não conhecia o conceito de sincretismo de regras de RPG, algo que hoje faria sem pudor. Ia sair incorporando modificadores de hit location e multiplicar qualquer dano por 3 – “porra, acertei, dano de perfuração nos órgãos vitais!”. E também só começo a fazer testes pra ver se não morro quando a minha Energia chegar ao negativo. E por que não ter Sorte negativa? Ou usar saving throws sempre que for necessário? Sei lá, as regras tinham que ser mais flexíveis. Eu quero usar o meu herói com super-força de Encontro marcado com o M.E.D.O. no Calabouço da morte. Não posso? QUEM VAI ME IMPEDIR? O Steve Jackson vai vir me dar porrada e me chamar de putinha suja?


Ok, ok, just being a bitch.


Voltando ao assunto inicial, estou radiante de felicidade porque finalmente poderei recomprar alguns dos livros que emprestei e, pobres coitados, nunca encontraram o caminho de volta pra casa (a saber: O feiticeiro da montanha de fogo, Encontro marcado com o M.E.D.O. e Prova dos campões).


Ah, e tem outra coisa – renovarei os primeiros votos de substancial importância que fiz em toda minha vida: zerar A nave espacial Traveller. Tenho o fantasma desse fracasso me atormentando desde aquela fatídica tarde de 1993 e não quero isso pro resto da minha vida. Perdi a virgindade, passei no vestibular, me formei, vi o quarto tri do Mengão, passei no vestibular (de novo), publiquei meu primeiro livro, mas em nenhum momento qualquer conquista foi plena. Em nenhum momento pude celebrar algo sem que estivesse com isso pesando em minha consciência: Nave espacial Traveller.


Eu ainda vou zerar essa merda.


E lembrando que os primeiros jogos de RPG que eu mestrei (e que joguei) na vida foram do RPG – Aventuras Fantásticas, um livreto que vinha com duas aventuras bem básicas: dungeons safadas na acepção mais true do termo, com dragões e magos malignos. Antes de GURPS. Antes de AD&D. E que mais tarde foram expandidos com vários suplementos. Mestrei uma campanha de Gurps por alguns anos no mundo de Allansia (o mundo onde os livros-jogos de fantasia se passavam), da qual tomaram parte a Gorda, o Ary, o Café e muitos outros manés que não comiam ninguém (alguns ainda não comem, inclusive).


Pensando bem, se o meu pai quisesse processar alguém por eu não ter me tornado o atleta comedor de mulheres que ele sempre idealizou, está aí o culpado: Aventuras Fantásticas. RÁ!


Vou ali tatuar minha testa com um unicórnio branco dentro de um sol radiante, que é o repelente padrão de zumbis e necromantes, e assim terminar A Cidade dos Ladrões (fatão que o nível de breguice contava pra potencializar as tatuagens mágicas).


Bis dann!


P.S.- sem contar que no meu próprio livro (o Nerdquest, vocês sabem) tem citação a Aventuras Fantásticas e especialmente ao maldito Nave espacial Traveller.


P.S 2 – E em meu próximo livro (de contos, caso porventura venha a ser publicado) terá um conto-jogo sobre pegação na night.


(O Ary colaborou com esse post via msn. Ele também não zerou A nave espacial Traveller, mas conseguiu terminar meu conto-jogo sobre pegação na night. Não que ele seja bom nisso.)

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quarta-feira, abril 22, 2009

Tolkien saiu do armário (?)

Aproveitando a falta de assunto e os feriados insanos em dias alternados, escrevo mais um postizinho caô com comentários de livros. Porém, desta vez, longe de ser mais um bando de comentários aleatórios amontoados ao acaso, este será um post específico sobre fantasia e ficção cientifica nacional (sim, isso existe), com coisas que li recentemente e coisas que li há algum tempo.

Ah, vale lembrar que já comentei sobre um livro de FC nacional por aqui, alguns posts atrás, o A mão que cria, do Octávio Aragão. O próprio autor se amarrou tanto nos comentários que me confidenciou estar escrevendo um romance sobre as Lhamas Mutantes Ninjas Adolescentes do Dr. Moreau.*

O arqueiro e a feiticeira, da Helena Gomes, é o primeiro volume de uma série. Sempre tive curiosidade de ler, mas só resolvi arriscar depois que vi o livro vendendo em um sebo. Infelizmente, não consegui passar da primeira frase.

A primeira frase é “Tolkien entrou na caverna”.

TOLKIEN. ENTROU. NA CAVERNA.

Até que seria maneiro se o personagem principal fosse o Tolkien (estilo Riverworld). Mas não, é uma homenagem mesmo. Sério? Tão sutil que eu quase nem notei. No way, dude, não dá pra levar na boa. Quando eu, com 13 ou 14 anos, escrevia minhas primeiras histórias, baseadas em aventuras de RPG estilo matar-trucidar-dividir itens mágicos, o grupo de personagens sempre era algo como Tolkien, Wolverine, Renato Gaúcho e Darth Vader, eu me amarrava em homenagens. Mas, tipo, existem maneiras mais sutis de prestar homenagens, cara. Pelo que eu entendi, o personagem só aparece no prólogo. Eu retomei a leitura em um capítulo seguinte, mas, a cada página virada, a sombra de Tolkien pairava sobre a trama. E se da próxima vez Tolkien acompanhasse C. S. Lewis? E se eles fizessem uma tocaia pra tentar emboscar o Michael Moorcock? Medo.

(Na verdade, isso acaba de me dar idéia pra um conto surreal)

Brincadeiras à parte, eu li alguns capítulos e cansou rápido. Tem algo a ver com órfãos e ciganos. Prometo algum dia dar outra chance ao livro. Ou não.

Viagem a Trevaterra, do Luis Roberto Mee, de 1994, é um livro que vários proto-nerds leram. Da época em que O senhor dos anéis era encontrado naquela versão de capa preta portuguesa (a que eu tenho, btw), que Tanis era um semi-duende e a referência em filme de fantasia era Conan, o Bárbaro, e não a bicha do Orlando Bloom com suas madeixas de cocker spaniel.

De repente, dar de cara com um livro de fantasia de um autor nacional era quase como se tivessem clonado um tiranossauro. Eu li o livro mais de uma vez, mas o meu cérebro juvenil reteve pouco. A idéia de um mundo onde existe um reino sem noites e um reino sem dias é de uma ingenuidade sensacional. E, ainda mais adequado ao conceito de fodice na minha mente púbere rpgística era o envio de uma party de heróis para roubar as sementes que seriam usadas no “plantio” de noites.

Admito que tenho um baita medo de a Regra dos 15 anos se aplicar, mas lerei o livro novamente em algum momento. Até porque tenho a continuação (Crônica da grande guerra, de 1995), presenteado e assinado pelo próprio autor. Brrr.

(Sim, esse é um parentêsis inusitado. O autor é amigo de um amigo de infância do meu pai, coisa que eu fui descobrir há alguns poucos meses. Muito boa gente. O restante da sua saga de fantasia, que começou com o Trevaterra e tem cinco livros, está concluído, porém tristemente engavetado – uma vez que ninguém parece se interessar por editar, infelizmente)

Os sete, do Andre Vianco. Resolvi descobrir qual é a do cara e comprei logo o livro mais famoso dele em uma dessas promoções do submarino.

Quando você começa a falar do livro se explicando que só comprou porque estava em promoção é um mau sinal, não? Right. O pior é que eu sequer tenho argumentos para debater, porque não consegui transpor a barreira das 20 páginas (aliás, que já começam contando a história de vida mega-piegas de um dos protagonistas). Talvez seja a minha antipatia inata por histórias de vampiro, culpa das baboseiras que eu me forcei a ler da Anne Rice e da histeria Crepúscula. People, vampires suck. Zombies are the new shit. Prevejo que vai aparecer alguém, vindo com o mimimi clássico de que eu estou com invejinha. O que não deixa de ser verdade. Portanto, sintam-se à vontade.

Agora, a hora do jabá!!

Exageros à parte, só digo que é “hora do jabá” porque conheço os autores dos livros seguintes, graças à vida boêmia da internet. Mas como ninguém está me pagando pra falar bem, tenho total liberdade pra espinafrar geral até o cu fazer bico!

O que não é exatamente o caso.

Anacrônicas – Pequenos contos mágicos, Ana Cristina Rodrigues. Um livreto curto (talvez curto demais) com coisas bem interessantes e outras nem tanto, mas que não comprometem um saldo final positivo. Vamos aos detalhes.

Tanto o conto de abertura quanto o que encerra o livro (É tarde e Apocalipse now) são ótimos. No recheio, contos bem interessantes, com algumas belas imagens (Princesa de toda a dor, Como nos tornamos fogo, Baile das máscaras) e outros que não parecem “dizer ao que vieram” (O senhor do tempo, Feitiço sem nome, Lenda do deserto), pois - na minha humilde opinião - falta um pouco daquele “punch”, no sentido da famosa analogia do Cortázar (que eu não vou reproduzir aqui pra não correr o risco de parecer inteligente).

Ainda em alguns contos encontramos excelentes idéias que gritam, exclamam e suplicam por um desenvolvimento mais aprofundado, tipo A casa do escudo azul (em uma Terra pós-apocalíptica em reconstrução, um indiana jones de saias caça relíquias da cultura pop, tipo exemplares do Harry Potter ou do Nerdquest **), que poderia muito bem ser um conto maior ou mesmo uma série de contos. Anyway, como eu disse antes, o saldo é positivo e é uma empreitada louvável. Para mais info e comprar o livro: Blog da autora.

Fome, Tibor Moricz. Fome trata de uma terra pós-apocalíptica onde o bicho realmente pegou. A civilização ruiu e a vida animal foi extinta. Os poucos humanos que sobraram recorreram ao bom e velho canibalismo para sobreviver em um mundo envenenado. Muito foda, não? E o resultado final é bem legal. A única coisa que me incomodou ao longo do livro foi a insistência do autor em “perturbar” e de passar o clima de angústia e corrupção que permeia o cenário. Acaba meio repetitivo, como se cada conto apresentasse o cenário do zero, daí uma perda de fôlego considerável após a primeira sequencia de contos. Mas isso não tira o mérito do livro, que constrói muito bem um climão tenso, desembocando em um final apoteótico. O ponto positivo vai pra Tarja Editorial, por ser uma editora que está mergulhando de cabeça nesse dúbio terreno de publicar fantasia e sci-fi. E o ponto negativo também vai pra Tarja Editorial, pela encadernação xexelenta do livro. Se alguém me pedir emprestado, posso até separar os contos por fascículos ou selecionar só os que eu gostei. Bom, acesse o site da editora para mais info e comprar o livro!

É isso ai, putada. É bom saber que existe vida inteligente na fantasia e FC nacional. Ao contrário da literatura nerd, que só tem tosqueira.

Bjundas.

* Isso é mentira. Eu invento coisas.

** Isso é mentira também. Mas vocês já sabem que eu invento coisas.

domingo, abril 12, 2009

Zumbis nazistas & velociraptors piratas

High concept é um termo usado para descrever qualquer idéia (geralmente associada a um filme, mas cabe em qualquer conceito artistico) que pode ser detalhada de modo sucinto em apenas uma premissa de poucas palavras. Diz-se, no âmbito do cinema, que seria um filme mais “vendável”, justamente por possuir um apelo universal e uma idéia facilmente assimilável.


Por outro lado, no âmbito nerd, o high concept pode ser resumido com bastante simplicidade: é algo que você lê e de cara pensa: “Caralho, isso é fodasticamente sensacional!


Tipo zumbis nazistas. Zumbis nazistas não são fodasticamente sensacionais? O filme em questão existe, é norueguês e se chama Dead Snow. Não vou entrar nos méritos do filme em si (até porque, na verdade, ele não tem nenhum), mas façamos uma punheta conceitual baseada na amálgama zumbis + nazistas.


Em um simulacro foram imbuídos os dois conceitos que espelham o que há de mais vilanesco na cultura pop-farofa-de-massa americana. Cadáveres comedores de cérebros e a grande ameaça ariana. Com um pouquinho de punheta pseudo-intelectual de botequim (óbvio que eu não estou sóbrio) percebemos, com supresa, que foi erguido o paradigma do antagonismo na cultura pop. Talvez apenas rivalizado por zumbis comunistas e, mais recentemente, zumbis terroristas.


E a conclusão é ainda mais genial: existe um banco de palavras, onde os high concepts borbulham, como em um caldeirão de idéias fodasticamente sensacionais, em que nos basta usar de amálgamas aleatórias para, instantaneamente, conceber idéias fodasticamente sensacionais.


Duvida? Vamos começar pelo mais simples, enumerando alguns conceitos sensacionais em potencial que, individulamente, possuem apelo universal e são de fácil assimilação, a saber:


comunistas, piratas, ninjas e velociraptors.


Daí, imagine QUALQUER combinação. E a sinopse do filme pouco importa. Quando você for alvejado por essa onda de fodice inabalável, o seu senso crítico será sobrecarregado e não poderá julgar fria e racionalmente o que , por mais que você tenha lido os clássicos, Aristóteles, Platão, o cacete a quatro. Eu posso inventar qualquer sinopse completamente absurda que você vai continuar achando sensacional. Vamos , um exemplo:


Velociraptors piratas. É isso mesmo, velociraptors piratas. Sinopse: depois de um acidente improvável em um laboratório de pesquisas secreto na Irlanda, que obviamente incluiu um porre de rum montilla, o DNA de velociraptors, que estava sendo decifrado e clonado, é misturado com o DNA do eminente corsário inglês Sir Francis Drake. Do nada, uma manada de velociraptors sai direto da câmara criogênica para aterrorizar os sete mares e capturar fragatas espanholas em nome da Rainha Elizabeth.


Outro exemplo:


Ninjas Comunistas. Quando a situação da Coluna Prestes se encaminhava para um desfecho dramático e sangrento, Luis Carlos Prestes recebe uma inesperada ajuda do camarada Stalin: um ninja comunista, enviado para treinar os revoltosos brasileiros na arte do comunismo ninja. Os comuninjas brasileiros partem para o confronto contra as forças legalistas, fazendo uso de estratégias ardilosas, como longas filas, burocracia, leituras do Capital em praça pública e pelos faciais assustadoramente abundantes.


Viu como é fácil? E esses são apenas exemplos simples. O método de análise combinatória randômica para criação de high concepts sempre vai funcionar.


O único problema é que não adianta nada ter um high concept na mãonazistas zumbis – e fazer um filme que parece uma mistura de Power Rangers com Trapalhões – e sem nenhum peitinho.

Filme de zumbi sem peitinho, onde se viu...


*


Ah, agora uma pausa para a atualização de notícias nerdquestianas. Não é novidade que eu sou relapso. Então: saíram algumas nerdquestices recentes por aí, que agora vou enumerar por aqui:


Resenha/entrevista no blog Melhores do Mundo, um site que entende de nerdice como poucos.


Resenha e entrevista no site de resenhas Resenhando.


Resenha no site do Café, que é um baita jabázão porque ele é meu amigo desde os idos tempos de Santo Agostinho. Mas o jabá é válido e o site merece a *sua* visita, seu mané.


*


De resto, até a próxima atualização. Se tudo der certo vai ser ainda esse ano.


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