quinta-feira, janeiro 05, 2006

Sobre o disco novo da Pitty e a minha falta de vergonha na cara

Essa coluna é baseada em fatos reais, levemente distorcidos em nome de uma narrativa mais divertida. Mas a essência é absolutamente verdadeira.

(Os nicks originais foram mudados para manter o anonimato dos meus amigos em questão)

Arranjei o CD novo da Pitty há pouco tempo, exclusivamente porque li em algum lugar que o disco teria alguma influência de Mars Volta, uma banda esquisita que eu me amarro. Ouvi sem muita expectativa (não tenho nada contra o primeiro álbum dela, até que tem umas músicas divertidinhas), mas me surpreendi. O disco está legal (o que é um level acima de "divertidinho").

O MSN novo tem aquela função maldita que mostra pra todo mundo o que você está ouvindo. Não tem erro, se tá tocando aquela única música da Avril Lavigne que você gosta, todo mundo vai achar que você só ouve Avril Lavigne.

Eu botei o CD da Pitty pra tocar durante uma tarde em que eu estava em casa de bobeira. Aliás, eu sempre estou em casa de bobeira, fazendo coisas super proveitosas, como escrevendo um romance épico de fantasia medieval erótica em 29 volumes de 6 mil páginas cada (ainda estou no prólogo, eu escrevo devagar). A segunda música estava tocando, justamente a que está sendo massacrada na Rádio Róqui, quando uma janelinha do MSN começou a piscar. Era certo amigo fuligíneo da faculdade, integrante da minha cota racial para amigos de minorias discriminadas. A mensagem foi a seguinte:

Preto diz:
Vieira, que porra eh essa??? tá voltando à fase de rebeldia reprimida adolescente?


Respondi que ele ia se surpreender e que o CD era legal. Recebi uma resposta enigmática:

Preto diz:
Jah ouvi... achei o cd meio pretensioso


Como assim? As suas bandas preferidas são Los Hermanos e Cordel de Fogo Encantado e você vem me dizer que a Pitty é pretensiosa?! Adicione meia dúzia de palavrões e xingamentos raciais configurados como crime (inafiançável e que não prescreve, diga-se de passagem), abrevie o “você” para “vc” e foi exatamente o que eu escrevi na hora.

Ele tentou se explicar, mas até agora não entendi onde o infeliz queria chegar. Disse que era um rockzinho metido a pesado, que não passava de música pra pré-adolescente ouvir na Rádio Róqui (o que é mesmo, pra que negar?), mas não consegui entender de onde veio o “pretensioso”. Até por que eu acho que todo artista tem mesmo que ser pretensioso, alguns conseguem alcançar bons resultados, outros não, mas a graça do jogo é apostar alto não é? Pra que você vai querer 24 territórios se pode conquistar o mundo?

A discussão terminou com esse que vos escreve gritando algo como "maldito preto preconceituoso!" (isso dá cadeia?). Eu sei muito bem que é música de adolescente, mas tem que ser ruim só por isso? Nego já joga no mesmo saco de bandas como Dibob e Charlie Brown Jr –

(Interlúdio. Essa última é a banda que eu mais odeio no planeta Terra, não consigo escrever esse nome sem me sentir compelido a alardear isso, mesmo que ninguém queira saber. Detesto aquela bosta e não me perguntem os motivos, podia escrever uma tese de mestrado sobre o assunto e não esgotaria meu ódio. Fim do interlúdio.)

- Bom, e acabam chegando a essa conclusão sem nem querer julgar, já que se você escuta Los Hermanos, Pedro Luís e Cordel de Fogo no Rabo, o seu nível está acima de coisas como a Pitty. Eu desisto.

Logo outra janela começa a piscar. Agora é minha assessora para assuntos doom-metálicos. A mensagem continha apenas uma única e contundente palavra, escrita na língua de Shakespeare para me atingir no âmago com seu impacto devastador:

Lady Moogle diz:
shame

Essa moça só escuta The Gathering e Anathema. Aliás, é engraçado o pessoal metaleiro que se amarra em Anathema e não gosta de Radiohead. O Anathema - uma banda muito boa, por sinal – foi mudando de estilo, de fininho, até ficar igual ao Radiohead! Eles enganaram os fãs tão bem que eles continuaram fãs da banda mesmo sem gostar de Radiohead. Amazing.

(Estou divagando novamente. Mas pelo menos é algo sobre música e não sobre lhamas).

Disse pra minha amiga que o disco era bom, que tinha influência de Mars Volta. (Pra dar credibilidade é sempre bom tacar o nome de uma banda estranha que todo mundo já ouviu falar mas ninguém conhece; experimentem, sempre funciona.) Ela não gosta de Mars Volta, acha que é progmetal neurótico, e também não acreditou que fosse verdade (até por que é meio exagero comparar Pity com Mars Volta...)

Meus argumentos não surtiram o menor efeito, e a discussão terminou com um singelo:

Lady Moogle diz:
(Smiley vomitando enojado)


Acho que eu nunca ia poder ser advogado, tenho a faculdade inerente de não ser levado a sério em hipótese alguma, seja quando digo que Pitty não é de todo ruim ou quando garanto pra minha mãe que estou procurando emprego. É algum tipo de marca de Caim loser.

Acho que nem quem me lê me leva a sério. Estão todos aqui pelo sexo e violência gratuitas. Ora bolas.

Pedro Vieira diz:
(Smiley nerd rindo)


(Esse texto foi originalmente escrito para uma amiga, que cometeu a sandice de me convidar pra escrever uma coluna em um site de música. Estou aproveitando a atual falta de produtividade pra postar aqui, mas quando o site vingar eu venho fazer propaganda.)