quinta-feira, setembro 29, 2005

Assassinato em primeiro level

Assassinato em primeiro level

Era uma noite típica de quarta feira, quando eu e meus amigos nos reuníamos para a partida semanal de RPG. Como de costume, eu estava sentado à cabeceira da mesa, com toda minha “autoridade” de Mestre do Jogo, esperando meus amigos se organizarem. Foi quando bateram na porta.


- Falta chegar alguém? – Perguntei. Afinal, já estavam todos à mesa. Só se neguinho tivesse chamado um jogador a mais, sem que ninguém me avisasse. Aí é sacanagem, eu ia ficar muito puto.

O Guilherme abriu a porta e na hora entraram dois homens de terno. Meu amigo abriu caminho quando viu um deles sacando um distintivo da polícia federal. O mais baixinho, que tinha cara de funcionário de cartório ou algo assim, se adiantou:

- Pedro Vieira?
- Sou eu – Respondi, meio vacilante. O que diabos era aquilo?
- Você é o Mestre do Jogo?
-Ah? Sim, sou eu. – Que porra era aquela?, pensei.

- Você está preso. – Disse ele, seco.
- Eu? Como? – Era uma tremenda surpresa. Do que diabos eu poderia ser acusado? O máximo de transgressão que eu já havia feito na vida tinha sido grudar meleca na porta do elevador.

- O senhor está sendo acusado de assassinato. – O outro policial disse, enquanto sacava uma algema e vinha na minha direção. Meus amigos me olharam, provavelmente tão pasmos quanto eu mesmo. Nem sequer consegui reagir na hora.
- A-a-a assassinato? Co-como??? – Balbuciei. O baixinho tirou uma lista do bolso e leu:
- Você é acusado dos homicídios de Madvar, ladrão de sexto nível; Boagrius, guerreiro de quarto nível; Vingador Galáctico, herói de 400 pontos; Sven, vampiro gangrel de 12ª geração e Juruma, rastreador de terceiro nível.

- Porra! – Gritei – São personagens de RPG!
O que estava com a algema me deu um tabefe na cara.
- Mais respeito, marginal! – e aproveitou que eu estava atordoado pra puxar meus braços e trincar a algema, bem apertado.

- M- mas são personagens de RPG! – Implorei novamente. Olhei para os meus amigos, que permaneciam impassíveis.
- Pessoal! Digam pra eles! – Apelei.

Quando os fitei, notei suas feições de desaprovo. Era como eu pudesse ler claramente em seus rostos o que estavam pensando:
“Você não ia escapar com isso pra sempre.”
“Quem mandou achar que podia sair matando quem você quisesse sem despertar atenção de ninguém?”
“Hora de pagar pelos seus crimes.”
“Apodreça na cadeia, bastardo!”

Decepcionado e abatido, segui com os dois policiais até a porta, as algemas apertando os pulsos, fiz uma última súplica:
- Não acredito! É um jogo! Os personagens não são reais!
- Sei, sei - Resmungou o federal com cara de funcionário de cartório. – Poupe as suas explicações para o juiz. Isso é exatamente o que todos vocês dizem.

(Contículo escrito há algum tempo. Não é e nunca poderia ser autobiográfico por que eu sou o Mestre mais benevolente do mundo.
Isso até o momento em que alguém resolve questionar os meus caprichosos critérios de distribuição de XP, aí o bicho pega.)

1 Comments:

Blogger Pedro Fraga said...

Não é autobiográfico porque Boagrius não morreu!

11:23 AM  

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